Dados coletados e analisados, mais um desafio: é hora de reunir todos os elementos de sua pesquisa que farão parte do seu artigo científico. O problema, nessa etapa, de acordo com muitos pesquisadores e cientistas, é que a escrita acadêmica perdeu a qualidade há muito tempo. Para eles, a falta de clareza e objetividade nos textos científicos produzidos contribui para um impacto negativo na divulgação da ciência.
Como adepta do movimento da Linguagem Simples, concordo que a área acadêmica tem muito a ganhar com a composição de textos mais claros e acessíveis que não só evitam a má interpretação, como ainda podem ajudar pessoas não familiarizadas com o assunto (estudantes, por exemplo) a aprimorar seu conhecimento. Por isso, convido você a ler este artigo até o final para descobrir como pode melhorar o seu texto e contribuir para elevar a qualidade da escrita no cenário acadêmico-científico.
Navegue pelo artigo:
- As principais diretrizes da escrita acadêmica (que você não pode ignorar).
- Voz passiva: por que evitá-la no texto científico?
- Exemplo de voz passiva x voz ativa.
- Clareza e objetividade.
- Destaque-se no meio acadêmico com a Mentoria Linguístico-Científica.
As principais diretrizes da escrita acadêmica (que você não pode ignorar)
O texto acadêmico tem algumas características básicas. Ele precisa, por exemplo, seguir um formato estruturado (introdução, material e métodos, resultados, discussão, conclusões e referências bibliográficas). E deve abordar esses tópicos com precisão e consistência.
Alguns periódicos já incluíram, em suas diretrizes, a submissão de textos acadêmicos que sejam objetivos e claros. Uma delas diz respeito ao uso preferencial da voz ativa na maioria das seções do manuscrito, deixando para a metodologia o emprego da voz passiva. Essa orientação, dentre outras, é muito positiva, pois significa que está havendo uma conscientização sobre a importância de se produzir conhecimento potencialmente mais compreensível para diferentes perfis de leitores sem perder a sua cientificidade. Aliás, se você quiser conhecer uma iniciativa da Linguagem Simples aplicada à saúde, que colabora para o acesso ao conhecimento para pessoas semileigas (alguma familiaridade com um dado tema), veja o DicTrans.
Três passos antes de adotar a Linguagem Simples
A produção de conhecimento científico com essas qualidades tem conquistado mais destaque no ramo dos periódicos nacionais e internacionais. Por isso, precisamos nos adaptar a essas novas diretrizes e colocá-las em prática. Na minha visão, antes de escrevermos textos acessíveis, por meio da LS, devemos seguir três passos principais:
- conscientização: conhecer sua história e origem; entender o motivo da sua relevância;
- compreensão: aprender sobre os mitos e verdades existentes; conhecer o processo de reformulação de textos por meio das diretrizes e orientações vigentes;
- ação: participar de cursos e palestras; realizar exercícios que reforcem a aprendizagem de forma sistemática; trocar ideias com colegas ou especialistas da área.
É apenas com a prática que você conseguirá melhorar cada vez mais o seu texto. Ao deixar o texto mais claro, você estará ajudando o leitor a compreender a sua pesquisa de forma mais eficiente. E essa regra é geral, vale para diferentes gêneros de textos. Ou seja, os seus textos são os anfitriões dos seus leitores. Mantenha isso em mente na hora de escrever.
Voz passiva: por que evitá-la no texto científico?
A construção de frases na voz passiva é uma convenção ainda comum da escrita científica. Porém, seu uso excessivo prejudica normalmente a compreensão do texto pela pessoa leitora e traz 3 problemas principais:
1. o conteúdo pode ficar vago;
2. as ideias podem gerar ambiguidade;
3. enfatiza a ação (podendo ser utilizada na seção da metodologia) e não quem a fez (insinuando evasão de responsabilidade).
Exemplo de voz passiva x voz ativa
Vamos a um exemplo.
Esta é a frase na voz passiva: “O projeto será finalizado”.
Ou seja, não sabemos quem fez a ação, mas essa informação pode ser muito útil para entendermos o seu contexto.
Agora, veja a mesma frase na voz ativa: “A equipe do marketing finalizará o projeto”.
Percebe como a leitura fica mais leve e clara desta forma?
Na voz ativa, portanto, fica clara a responsabilidade do sujeito na execução da ação e isso é importante quando lemos um texto. Além disso, há outra desvantagem na voz passiva: em frases mais longas, quem praticou a ação pode ficar longe da ação realizada, confundindo a pessoa que lê.
Existem algumas seções do texto científico em que a voz passiva pode ser usada e é bem-vinda, principalmente nos métodos.
Clareza e objetividade
Clareza e objetividade devem ser os principais guias de quem escreve um texto científico. Para uma boa escrita, escreva de forma concisa e clara, com o mínimo de palavras rebuscadas (como esta), tentando minimizar ambiguidades. Uma dica fundamental é ter em mente a pessoa leitora ao escrever um texto. Quando o finalizar, peça a alguém para revisá-lo. Revise-o mais de uma vez, se possível.
Importante lembrar: nos Estados Unidos e na Europa, a aplicação das diretrizes da Linguagem Simples está em vigor há várias décadas; no Brasil, vem sendo utilizada por diversas esferas nos últimos 5 anos.
Leia Mais:
Destaque-se no meio acadêmico com a Mentoria Linguístico-Científica
Uma escrita acadêmica de qualidade parte da anotação de tudo o que é mais relevante sobre um tema para servir de base para a interconexão de ideias lógicas e coerentes. Mas você não precisa encarar esse desafio sozinho(a)! Com 35 anos de experiência como linguista, consigo aplicar técnicas específicas para que o seu texto esteja adequado às normas de publicação e ao seu público leitor.
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Sobre a autora
Heloísa Delgado. Tradutora e educadora de formação e coração, sua trajetória está relacionada ao ensino da língua inglesa e da tradução, tendo atuado nos cursos de extensão, graduação e pós-graduação lato sensu na PUCRS por 30 anos.
Curadora linguística em português e inglês: realiza serviços de revisão e tradução técnico-científica, redação de linguagem simples e orientação de escrita acadêmica, profissional e científica para especialistas, professores e pesquisadores de várias áreas, em inglês e português.
Docente de cursos e oficinas sobre escrita simples para grupos de empresas privadas e órgãos públicos.
Dra. em Letras pela UFRGS com estágio pós-doutoral na mesma universidade. Membro da Rede Linguagem Simples Brasil (RLSB) e da REBRALS (Rede Brasileira de Letramento em Saúde).