um consultório de psiquiatria, com o psiquiatra fazendo um atendimento e entregando papéis ou mostrando o computador para o paciente. Texto na imagem “linguagem simples na psiquiatria” - Mais H Consultoria Linguística Porto Alegre

 O Uso da Linguagem Simples na Psiquiatria

A área da saúde é uma das mais importantes quando falamos sobre a necessidade de esclarecer e simplificar a linguagem. Tanto médicos quanto pacientes podem se beneficiar muito dessa estratégia de comunicação se oferecermos textos mais fáceis. Entretanto, na saúde, mais precisamente na psiquiatria, cuja linguagem venho estudando há alguns anos, há um longo percurso a ser trilhado. 

Neste artigo, descubra o número de pessoas afetadas por transtornos afetivos (bipolar, ansiedade e depressão). Além disso, conheça uma iniciativa que utilizou a Linguagem Simples – LS para criar um dicionário público de psiquiatria e, ainda, saiba mais sobre outros usos possíveis da metodologia LS.

Quantas pessoas têm Transtornos Afetivos no Brasil?

Os números de casos de transtornos afetivos, como o bipolar, chegam a 140 milhões de pessoas no mundo¹. Especialistas consideram esse tipo de transtorno uma das principais causas de incapacidade, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). 

Um relatório de 2017 da OMS² apontava o Brasil como o país com a maior prevalência de transtornos de ansiedade nas Américas: o problema afetava 9,3% da população, o equivalente a 18,6 milhões de pessoas. 5,8% dos brasileiros relatam ter transtornos depressivos, ou seja, 11,5 milhões de pessoas.

Durante a pandemia, no Brasil, um estudo (2020) publicado pela Fiocruz³ com outras seis universidades dizia que 40% da população adulta brasileira tem sentimentos frequentes de tristeza e depressão e 50% relatam ter sensação frequente de ansiedade e nervosismo.

imagem de multidão em uma grande cidade. Dados sobre a saúde mental no Brasil e no mundo: 140 milhões de pessoas no mundo têm transtornos psiquiátricos.¹; +18 milhões de brasileiros sentem ansiedade.²; +11 milhões de brasileiros têm sintomas de depressão.²; +50% dos adultos sentem ansiedade e nervosismo desde a época da pandemia.³. Fontes: ¹Ministério da Saúde, 2024.²Organização Mundial da Saúde,2017. ³Epidemiologia e Serviços de Saúde, 2020.

Linguagem Simples na Psiquiatria

Devido à relevância e ao impacto dos transtornos afetivos (dentre eles, o bipolar, a ansiedade e a depressão) na população brasileira, é fundamental simplificarmos e esclarecermos a linguagem sobre o assunto. 

 Imagem representando o Transtorno de Humor Bipolar. Metade da face preenchida com a cor roxa e a outra metade apenas contornada. Texto da imagem: O DicTrans foi criado para auxiliar profissionais da área da saúde psiquiátrica a compreender os termos do universo do Transtorno do Humor Bipolar

Dicionário Público Multilíngue sobre o Transtorno do Humor Bipolar (THB)

Como contribuição para a área, publiquei, juntamente com outros colegas, o dicionário público sobre o Transtorno do Humor Bipolar, o DicTrans, disponível on-line e gratuito. O dicionário visa difundir a terminologia sobre o THB em quatro idiomas: inglês, português, italiano e espanhol, com pronúncias e explicações para cada verbete. Além disso, apresenta áudios de diversos termos nas quatro línguas, que oferecem uma contextualização médica baseada em experiência clínica. 

Chegou a hora de descomplicar os termos médicos que dificultam o acesso a um conhecimento relevante na vida de muitas pessoas. Este Caso de Sucesso utiliza as técnicas de Linguagem Simples na área da psiquiatria: é o DicTrans – Dicionário Multilíngue sobre o Transtorno do Humor Bipolar, um projeto colaborativo da área da linguagem de especialidade destinado a médicos, psiquiatras, psicólogos e profissionais da saúde em geral. 

Como organizamos e simplificamos o conteúdo do dicionário com LS? 

Selecionamos textos sobre a doença em inglês, encontrados na revista Bipolar Disorder, uma referência internacional de ponta. A partir desses textos, listamos os termos e as expressões mais frequentes e relevantes usando ferramentas computacionais para esse fim. O passo seguinte foi buscar equivalentes das palavras listadas, nas outras línguas, em textos com temática semelhante, originalmente escritos nessas línguas. A partir dessa seleção e de suas definições,  passamos para outra etapa do planejamento metodológico: o da simplificação e inclusão desse conteúdo nos verbetes a serem dispostos no dicionário. Vale lembrar que o público-leitor pensado para o DicTrans são os profissionais da saúde, da linguagem e comunicação, ou seja, pessoas que possuem muito conhecimento ou razoável entendimento sobre temas dessa área, ou leitores competentes familiarizados com a temática.   

Por isso, a simplificação partiu de textos especializados complexos, em que várias etapas foram realizadas para tornar o conteúdo compreensível para esses indivíduos. Se nosso público fosse o cidadão com o ensino fundamental completo, por exemplo, precisaríamos pensar esse processo de forma diferente.                   

Felizmente, então, existem caminhos para reduzir o ‘compliquês’ da área da saúde para diferentes perfis de leitores brasileiros! A próxima etapa do dicionário será simplificar seu conteúdo para o cidadão que tenha, no máximo, o ensino médio completo, para poder entender o que lê e aplicar esse conhecimento no seu dia a dia. Afinal, essa é uma das essências da Linguagem Simples que você pode utilizar para todas as áreas do conhecimento.

Torne seu texto acessível com a Redação Simples

E você, tem interesse na Linguagem Simples? Conhece outros projetos nesse âmbito? Compartilhe conosco nos comentários! Se você é da área jurídica, da saúde ou da área acadêmica e científica e não consegue simplificar os seus textos de forma que eles se tornem acessíveis a quem não é da área, posso te ajudar nessa missão! A redação simples envolve conhecer e aplicar várias técnicas linguísticas para que o público leitor encontre o que precisa, entenda o que encontra e use isso para atender às suas necessidades. 

Ao contrário do que parece, essa tarefa é bastante complexa, porém gratificante! Por isso, será um prazer para mim utilizar o que aprendi em 35 anos de experiência como linguista, para aproximar você do seu público! 


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Sobre a autora

Heloísa Delgado. Tradutora e educadora de formação e coração, sua trajetória está relacionada ao ensino da língua inglesa e da tradução, tendo atuado nos cursos de extensão, graduação e pós-graduação lato sensu na PUCRS por 30 anos.
Curadora linguística em português e inglês: realiza serviços de revisão e tradução técnico-científica, redação de linguagem simples e orientação de escrita acadêmica, profissional e científica para especialistas, professores e pesquisadores de várias áreas, em inglês e português.
Docente de cursos e oficinas sobre escrita simples para grupos de empresas privadas e órgãos públicos.
Dra. em Letras pela UFRGS com estágio pós-doutoral na mesma universidade. Membro da Rede Linguagem Simples Brasil (RLSB) e da REBRALS (Rede Brasileira de Letramento em Saúde).

Referência bibliográfica

¹BRASIL. Ministério da Saúde. Biblioteca Virtual em Saúde. Brasília, 2019. Acesso em: 31 mai. 2024.

²Organização Mundial da Saúde. Depression and Other Common Mental Disorders. Genebra, 2017.Acesso em: 31 mai. 2024.

³BARROS, M. B. DE A. et al. Relato de tristeza/depressão, nervosismo/ansiedade e problemas de sono na população adulta brasileira durante a pandemia de COVID-19. Epidemiologia e Serviços de Saúde, v. 29, n. 4, p. e2020427, 2020. Acesso em: 31 mai. 2024.

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