THB - transtorno do Humor Bipolar o que é, linguagem simples

Explicando o Transtorno do Humor Bipolar (THB) de forma objetiva

Divulgar o Transtorno do Humor Bipolar (THB) de forma facilitada é importante principalmente hoje em dia, em que a comunicação em formato digital está massivamente presente na vida das pessoas. Mas por que o THB?

O THB é uma doença grave que intercala episódios maníacos (elevação anormal e persistente do humor – euforia – ou irritabilidade intensa) com episódios depressivos, afetando de 0,5% a 1% da população em sua forma mais grave e próximo de 6%, se considerarmos suas formas mais leves.

A maioria dos pacientes com esse transtorno apresenta os primeiros sintomas antes dos 25 anos. Contudo, especialmente quando se fala do THB tipo II, o tempo médio entre o início dos sintomas e o diagnóstico correto ocorre, com frequência, de oito a nove anos porque há muita dificuldade em reconhecer a hipomania, já que ela dura menos tempo que a mania e não apresenta todos os seus sintomas (por isso hipo). Assim, o surto hipomaníaco acaba não sendo reconhecido e apenas a depressão é considerada. Além disso, o hipomaníaco pode ter vários surtos depressivos – podendo se repetir por vários anos – antes de ter um surto hipomaníaco. Se a história familiar da pessoa paciente não for pesquisada, ela pode erroneamente ser diagnosticada como tendo depressão unipolar. No entanto, basta um surto hipomaníaco entre muitos surtos depressivos para ser considerado bipolar.

Muitos pacientes consideram o surto hipomaníaco como um período de suas vidas em que se sentem melhores, já que ficaram meses deprimidos. É nesse momento que a atenção dos familiares para perceber a doença e encaminhar a/o paciente à/ao especialista – para serem realizados o diagnóstico e tratamento corretos – é de fundamental importância.

Desafios do THB

Assim, um dos desafios da psiquiatria é fazer o diagnóstico precoce, para poder diminuir o tempo entre as primeiras manifestações clínicas e o tratamento adequado. Quando não há tratamento adequado, o comprometimento cognitivo do paciente é maior e, na maioria dos casos, aumenta com o passar do tempo, podendo se tornar crônico e deixar sequelas irreversíveis.

Além disso, a doença se estabelece de forma gradual, e não repentina e está entre as dez condições mais debilitantes do mundo, o que a torna muito cara para a família e a sociedade.

A depressão talvez seja a fase da doença onde há maior incapacidade, sendo a sexta causa mais comum de incapacitação entre adultos jovens. Seus portadores não só perdem mais dias de trabalho como produzem menos quando presentes. Mesmo aqueles pacientes que conseguem manter a doença sob controle enfrentam dificuldades para voltar a trabalhar e estar em atividade como antes por causa do déficit neurocognitivo causado pela doença.

O THB possui alto grau de mortalidade, pois o risco de suicídio é trinta vezes maior do que outros transtornos. Muitos pacientes, quando estão depressivos, são medicados apenas com antidepressivos que, por serem estimulantes, lhes dá o impulso para cometer suicídio. Antidepressivos nesses pacientes só podem ser usados em combinação com estabilizadores de humor e somente até a melhora da depressão.

Felizmente, a pesquisa psiquiátrica evoluiu muito nos últimos 50 anos, trazendo uma melhor compreensão sobre o que causa o THB e o desenvolvimento de tratamentos mais eficazes. No entanto, esse Transtorno, apesar de ter recebido importantes contribuições da ciência, continua sendo uma doença potencialmente devastadora e, por isso, foco de interesse de psiquiatras do mundo inteiro.

Dicionário do Transtorno do Humor Bipolar

Por isso, quanto mais acessível for a linguagem sobre a bipolaridade, especialmente para a família, maior a capacidade que essa possui em reconhecer, compreender e desmistificar a doença, não se deixando intimidar pelas argumentações dos pacientes, que normalmente são muito inteligentes. A importância crucial disso é o encaminhamento do paciente para uma avaliação e tratamento adequado que é determinante na evolução da doença e que pode proporcionar ao paciente a uma vida produtiva e feliz.

Dessa forma, tornar uma linguagem especializada mais acessível é fundamental, principalmente ao levarmos em conta os diferentes níveis de pessoas leitoras dessa linguagem. Pensando nisso, a Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu letramento em saúde como o conjunto de competências cognitivas e sociais e a capacidade dos indivíduos para compreenderem e usarem a informação de forma a promover e manter boa saúde (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1998)1. É a capacidade que possuem para tomarem decisões fundamentadas no cotidiano – em casa, na comunidade, no local de trabalho, no mercado, na utilização do sistema de saúde e no contexto político -, possibilitando o aumento do controle sobre sua própria saúde e a sua capacidade para procurar informação e assumir responsabilidades.

Já a definição de Health Literacy – ou Letramento em Saúde – da National Network of Libraries of Medicine (Rede Nacional de Bibliotecas de Medicina) está para além do simples entendimento de informações e serviços básicos necessários sobre a saúde: uma comunicação clara entre os prestadores de serviços de saúde e os pacientes é necessária, uma vez que ambos têm papéis importantes no letramento científico, o qual consiste na leitura, compreensão, capacidade de tomada de decisão e habilidade de aplicar o conhecimento em situações reais. Portanto, um letramento baixo em saúde é um fator que pode afetar a qualidade de vida da população.

Encerramos por aqui esse texto, mas trataremos desse assunto outras vezes neste blog, trazendo, de forma acessível, exemplos de termos técnicos do dicionário DicTrans (Dicionário sobre o Transtorno do Humor Bipolar), cujo acesso pode ser feito clicando na aba “DicTrans” deste site ou no endereço dictrans.org. Essa obra foi elaborada por nós em conjunto com uma equipe interdisciplinar.

Esperamos que você goste do conteúdo de hoje! Se quiser comentar sobre o tema, envie-nos uma mensagem!

Um abraço e até mais!

Heloísa e Carmen

Referências

  • GAZELLE, F. ANDREAZZA, A.C. SANT’ANNA, M.K. Diagnóstico precoce do Transtorno Bipolar. Revista Brasileira de Psiquiatria. v.27, no.1. São Paulo: ABP, março de 2005.
  • KAPCZINSKI, F.; QUEVEDO, J. et. al. Transtorno Bipolar: teoria e clínica. Porto Alegre: Artmed Editora S.A., 2009.
  • The World Health Report. World Health Organization. Washington: WHO Library Cataloguing in Publication Data, 1998.1 Relatório disponível em https://www.who.int/whr/1998/en/whr98_en.pdf. Acesso em abril de 2016. Minha tradução.
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