Escrita acadêmica e científica: diferenças, semelhanças e exemplos.

Se você escreve – ou já escreveu – textos acadêmicos ou científicos, já deve ter se perguntado sobre as semelhanças e diferenças entre eles ou, ainda, se seriam considerados do mesmo tipo. Leia esse artigo para estar a par das diferenciações entre eles e saber como realizá-los da melhor forma.

A diferença entre gênero e tipo textual

Antes de explicar sobre a escrita acadêmica e científica, primeiro, vou explicar, primeiro, a diferença entre gênero e tipo textual. Cada gênero textual possui um padrão comum de escrita, para que possa cumprir sua função de comunicação. Como por exemplo: cartas, crônicas, receitas culinárias, bulas, manuais de instruções, listas, verbetes, e assim por diante. É só observar como  as receitas seguem a mesma estrutura para explicar como se faz um determinado prato. Podemos dizer que é por meio do gênero textual que diferenciamos o bilhete da lista de compras da bula do manual e assim por diante. Um gênero textual pode ser composto de diferentes tipos textuais. E quais são eles? Dissertativo (argumentativo ou expositivo), descritivo, narrativo e injuntivo (este, funciona como uma ordem para o leitor. Exemplo: peças publicitárias, manual de instruções, bula de remédios etc.). A estrutura e finalidade de um texto se modificam de acordo com o tipo de comunicação que desejamos realizar.

O que é um texto acadêmico?

Esse gênero tem valor para a comunidade universitária, ficando mais restrito à academia. Os/as estudantes estudam com profundidade um tema durante sua formação profissional em determinada área ou curso. Da mesma forma, o texto acadêmico ampara-se em ideias e autores anteriores, trazendo para quem o lê a releitura de um estudo já feito por outras pessoas.   

Esse estágio é essencial para os estudantes no início da vida acadêmica, porque sabemos que eles têm dificuldade para escrever textos complexos já que ainda não desenvolveram as habilidades necessárias para tratar da essência de um problema ou objetivo de estudo. Por isso, a produção desses estudantes possui um caráter acadêmico.

Naturalmente, ao longo de seu curso, eles terão tido a chance de realizar projetos de iniciação científica e compreenderem mais profundamente as etapas de um texto com escrita acadêmica e científica (objetivo, problema, metodologia e análise de pesquisa e referencial teórico).  Esse amadurecimento fará com que consigam escrever textos mais complexos, confirmando ou rebatendo teorias já existentes. Portanto, quando se fala em educação superior, o ideal seria usar o termo acadêmico-científico.

E o que é um texto científico?

Esse gênero tem por base apresentar um novo estudo, fruto de pesquisas e experiências, geralmente publicado em periódicos científicos. Sendo assim, possui uma profundidade conceitual, teórica, metodológica e analítica bem maior do que o texto acadêmico. Ao concluir o estudo, o/a pesquisador/a defende uma dissertação ou tese acadêmica e/ou aproveita seções desse estudo para publicar em periódicos nacionais ou internacionais.  Fonte: UniAmérica

Nesse último caso, estamos falando do artigo científico, pois, assim como o texto, ele precisa seguir normas e padrões específicos e respeitar as etapas do método científico. O conteúdo desse gênero é responsável por grande parte da criação e divulgação do conhecimento nas mais diversas áreas, mesmo que haja uma repetição de processos e adaptações das ideias de outros/as pesquisadores/as.     

Exemplo de um texto científico e um acadêmico-científico

O resumo a seguir  trata de um trabalho de cunho científico, visto que respeitou as normas da pesquisa e da escrita científicas. O texto na íntegra foi publicado em periódico nacional com ótima classificação de qualidade segundo a CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior).


“O ensino de Português como língua adicional em contexto universitário: por uma pedagogia crítica intercultural.

Este trabalho, de cunho teórico-pedagógico, discorre sobre a relevância da língua portuguesa no Brasil e no mundo, por meio de dados estatísticos, e enfatiza o seu papel como língua adicional, como ponto de intercâmbio cultural e comercial, e de permuta econômica. Trata, num segundo momento, de conceitos sobre a educação para a cidadania global, e apresenta aquele utilizado na prática docente das autoras em contexto universitário, qual seja, o do incentivo à aprendizagem da convivência e cooperação local e global. Por último, discorre sobre a disciplina de Português como língua adicional para alunos internacionais cursando pós-graduação em uma IES do sul do país, ressaltando ações que buscam contribuir para o intercâmbio do pensamento científico crítico inserido em um ambiente plurilinguístico e multicultural. 

Palavras-chave: português como língua adicional; educação para a cidadania global; pedagogia crítica intercultural; contexto plurilíngue e multicultural.”

Este outro resumo trata de um estudo acadêmico-científico, e portanto, possui um bom nível de rigor científico. Porém, foi apenas analisado entre docentes da universidade  e não por pares externos. O trabalho foi apresentado no último semestre de graduação, etapa em que o/a estudante – pelo menos, assim é esperado – já possui amadurecimento acadêmico suficiente para realizá-lo.        

“Este trabalho tem como foco examinar o processo de formação docente de professores de Língua Portuguesa que vem sendo desenvolvido por meio do Programa Institucional de Iniciação à Docência, especificamente na Faculdade de Letras da XXXXX desde 2010. Por meio de entrevistas a um grupo de ex-bolsistas, supervisores do programa e professores das disciplinas de estágio da Faculdade de Letras, buscamos respostas conciliando fundamentos da Teoria Literária, da Linguística e de teorias sobre educação e formação de professores, além dos objetivos do programa e do Projeto Pedagógico do Curso de Licenciatura em Letras. O exame permeia a visão que os entrevistados possuem do Programa bem como se esse contribui na formação docente. 

Palavras-chave: formação docente, PIBID, licenciando bolsista.”


Bem, percebemos que esses resumos apresentam características semelhantes por se tratar do mesmo gênero textual. Consequentemente, apresentam a sequência esperada de elementos, tais como o tema, o objetivo, o contexto e o campo teórico.

No entanto, parece-me que o primeiro resumo apresenta uma riqueza maior de conteúdo a ser explicitado ao longo do texto. Há mais informações relevantes: tipo de artigo (teórico-pedagógico), presença de dados estatísticos, importância comercial, cultural e econômica, conceitos sobre a educação, práticas docentes das pesquisadoras como sustentação argumentativa à pesquisa e a descrição da disciplina ofertada.     

No segundo, por outro lado, as informações fornecidas concentram-se na compreensão do processo de formação de professores por meio de entrevistas a um grupo de atores acadêmicos. Informa, também, sobre a concepção teórica da pesquisa atrelada à visão que os/as entrevistadas possuem do Programa e de sua contribuição para a formação de professores/as.   

Vale dizer que as percepções trazidas aqui estão apenas fundamentadas nos resumos e de sua visibilidade/abrangência entre pares. Não estou julgando a qualidade dos trabalhos quanto ao seu conteúdo e forma, embora seja natural que um estudo publicado no meio científico deva apresentar um valor de pesquisa superior àqueles acadêmicos. 

Como organizar textos acadêmicos e científicos

Por fim, compartilho alguns itens de verificação para ajudar você a organizar e editar seus textos com escrita acadêmica, da mesma forma podem servir para a escrita científica.

  • Decidir sobre o tema.
  • Escolher referências bibliográficas de valor científico. 
  • Delimitar o tema à medida que for amadurecendo o estudo.
  • Começar a escrever, mesmo que as ideias pareçam desorganizadas na sua cabeça.
  • Decidir pela metodologia a ser utilizada (você pode replicá-la e ajustá-la conforme o escopo do seu trabalho).

Depois de escrever o primeiro grande rascunho, faça as perguntas abaixo. Elas podem ajudar você a nortear os aspectos principais da sua pesquisa.  

Checklist da introdução

  • As frases de abertura estão claras e relevantes?
  •  Declaro  a importância do assunto? 
  • Menciono trabalhos anteriores? 
  • Justifico a ausência de pesquisa sobre o assunto que apresento (se for o caso)? 
  • Descrevo um plano de desenvolvimento do estudo para que a pessoa leitora saiba, de antemão, o que você apresentará a ela?        

Checklist do corpo do texto

  • Desenvolvo os tópicos da maneira que descrevi no plano de desenvolvimento?
  • Devo incluir tópicos frasais nos parágrafos?
  • Forneço argumentos suficientes para sustentar o meu estudo?
  • Devo incluir  ilustrações e exemplos condizentes com o estudo?
  • Uso marcadores de discurso, tais como “porém”, “além disso”, etc.?
  • Faço uso de referências relevantes?

Checklist das considerações finais    

  • Reafirmo e complemento as ideias mencionadas na parte introdutória?
  • Resumo os resultados da investigação (se houver)?
  • Ofereço sugestões e apresento possibilidades de ampliação do meu estudo no futuro?

Em conclusão, é fundamental que haja uma checklist de gramática, vocabulário, registro e assim por diante! 

Você quer saber mais sobre como utilizar de forma correta a escrita acadêmica e científica? Acompanhe-nos  no Instagram da Mais H Consultoria Linguística.

Além disso, oferecemos o serviço de revisão de tradução de textos  técnico-científicos em português, inglês e espanhol. Caso precisar de ajuda contate-nos! Até a próxima!Artigo inspirado em https://uniamerica.br/blog/a-diferenca-entre-texto-cientifico-e-academico

Autora Heloísa Orsi Koch Delgado
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